purple and pink plasma ball

A importância da neurociência para a carreira e como o alterismo é benéfico para o nosso cérebro.

Qual o valor e a importância da neurociência para nossa vida profissional? De que maneira conhecer o funcionamento de nosso cérebro pode nos ajudar com nossas escolhas e a atingir nossas metas de carreira? Como o alterismo contribui positivamente nessa jornada?

  1. O que é Neurociência?

Neurociência é um campo científico interdisciplinar dedicado ao estudo do sistema nervoso, organizando-se em cinco disciplinas, conforme suas finalidades:

  • Neurofisiologia: dedicada a estudar as funções do sistema nervoso e periférico, mapeando suas atividades
  • Neuroanatomia: estuda toda a estrutura do cérebro, medula espinhal, nervos e terminações nervosas – obrigatório à prática médica
  • Neuropsicologia: investiga a relação entre o estudo aprofundado do sistema nervoso e a análise do comportamento humano e dos processos psicológicos
  • Neurociência comportamental: estuda o comportamento de humanos e outros animais a partir de bases biológicas e ambientais. Ela se concentra na análise da conexão entre neurotransmissores e fenômenos psicológicos associados à atividade biológica
  • Neurociência cognitiva: entendimento do pensamento, da memória e da dinâmica do aprendizado, estudando parte da percepção e sensação, investigando as interações dos cinco órgãos dos sentidos na geração de conhecimento.[1]

Estamos focando assim na Neurociência comportamental e cognitiva, à medida em que falaremos mais especificamente sobre o comportamento humano inserido num contexto de carreira.

blue and green peacock feather

  1. Princípio organizador do cérebro: ameaça x recompensa

A função principal de nosso cérebro é garantir nossa sobrevivência. Para isso, ele está sempre buscando

  • Afastar as ameaças
  • Aproximar-se das recompensas

Ou seja, nosso cérebro está o tempo todo, de forma inconsciente, detectando estímulos, situações de modo a classificá-los como ameaças ou recompensas. Como ameaças, são considerados aqueles estímulos que geram emoções negativas, e como recompensas, os que geram emoções positivas.

Importante ressaltar que as ameaças sociais são tratadas pelo cérebro de maneira semelhante às ameaças físicas. Ou seja, ao se deparar com uma situação de ameaça social, o cérebro produz reações semelhantes a situações de ameaça a nossa própria vida.

Alguns dos principais efeitos da ativação do modo de ameaça são os seguintes:

  1. Redução dos recursos disponíveis para nossas funções cognitivas do córtex pré-frontal (CPF): O CPF é a parte do cérebro responsável pelo planejamento de comportamentos e pensamentos complexos, tomadas de decisões, modulação de comportamentos e outras funções mais analíticas. Quando os recursos para o CPF são reduzidos, isso afeta o processamento consciente, a capacidade de resolução de problemas e o raciocínio analítico.
  2. Ativação das amígdalas cerebrais: As amígdalas são grupos de neurônios presentes no cérebro, sendo responsáveis pela manifestação de reações emocionais e na aprendizagem de conteúdo emocionalmente relevante. Como consequência dessa ativação, nossas reações emocionais são potencializadas, e temos uma tendência a generalizar, além de uma maior propensão a agir na defensiva.

Por outro lado, a ativação do modo de recompensa produz efeitos como o aumento dos níveis de dopamina, o que potencializa as emoções positivas, o engajamento (disposição para realizar tarefas difíceis) e uma maior propensão à resolução de problemas.

Sendo assim, conhecer o funcionamento do cérebro, bem como identificar os estímulos sociais tendentes a gerar esses estados pode nos ajudar a mudar o cérebro do modo de ameaça para o modo de recompensa, melhorando nossa capacidade cognitiva e ajudando a processar nossas emoções.

Isso nos ajuda a lidar com vários desafios em nossa vida profissional, contribuindo para a resolução de problemas complexos e o atingimento de nossas metas.

 

  1. Neurociência e escolhas profissionais

Um dos fatores fundamentais para o sucesso de nossas escolhas é o autoconhecimento. Na ausência de autoconhecimento, tomamos decisões e fazemos escolhas de carreira com base em fatores externos, e não internos (ex: oportunidades de mercado, salário, indicações de terceiros etc); e deixamos de considerar nossos próprios interesses, habilidades, propósito e valores. Além disso, muitas vezes ficamos mais focados nos aspectos de desenvolvimento e falhamos ao identificar nossos pontos fortes.

Outro fator importante a ser considerado é que o cérebro possui dois sistemas envolvidos na tomada de decisões: o processamento inconsciente e o consciente.

O processamento inconsciente é rápido, instintivo e automatizado. Exige pouco esforço para funcionar. É o processamento responsável pela formação de hábitos. É fundamental para nossa sobrevivência, uma vez que economiza tempo e recursos do cérebro para sua execução. As atividades desenvolvidas por esse sistema são automatizadas a ponto de conseguirmos executar várias tarefas ao mesmo tempo.

O processamento consciente, por sua vez, é lento e deliberado. Trata-se de uma das “funções executivas” governadas pelo CPF, e demanda grande quantidade de recursos e energia. Além disso, precisa de um certo nível de estímulo para manter o desempenho no máximo. As atividades desenvolvidas por esse sistema são minuciosas, e temos dificuldade de realizar mais de uma tarefa analítica ao mesmo tempo.

A fim de economizar recursos, nosso cérebro confia principalmente no sistema inconsciente para processar informações e tomar decisões. Além disso, as constantes distrações e estímulos a que estamos expostos dificulta a manutenção da atenção pelo CPF. Por isso, 95% de nossas escolhas e decisões diárias são inconscientes, como uma maneira encontrada pelo cérebro de economizar recursos.

Através do estudo da neurociência, podemos maximizar o funcionamento de nosso CPF, aumentando a nossa capacidade cognitiva, o que, juntamente com o processo de autoconhecimento, permite a tomada de decisões conscientes.

woman placing sticky notes on wall

  1. Neuroplasticidade e a mentalidade de crescimento

Outro fator fundamental para nosso crescimento profissional é a mentalidade de crescimento.

Em seu livro “Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso”, Carol Dweck distingue a mentalidade fixa da mentalidade de crescimento. Basicamente, a diferença entre ambas é:

  • Na mentalidade fixa, acredita-se que inteligência e talentos são natos e, portanto, fixos
  • Na mentalidade de crescimento, acredita-se que inteligência e talento podem ser desenvolvidos com o tempo e esforço adequados.

Na Neurociência, existe o conceito da neuroplasticidade cerebral, que é basicamente a capacidade do cérebro de aprender e se reprogramar. Trata-se de um sistema essencial para nossa adaptação e, portanto, para a sobrevivência de nossa espécie.

Ou seja, nosso cérebro muda ao longo de nossa vida, e nossos comportamentos têm grande influência nas alterações produzidas. Ao entender esse conceito, automaticamente passamos a adotar a mentalidade de crescimento, pois sabemos que nossos esforços podem sim mudar nosso cérebro, de modo a desenvolvermos novos conhecimentos e habilidades.

Há outros fatores que podem afetar a capacidade cognitiva do cérebro, como fatores genéticos, biológicos, fisiológicos, sociais etc. Porém, devido à neuroplasticidade, grande parte desses talentos e dons podem ser desenvolvidos ou potencializados, o que estimula a mentalidade de crescimento e, portanto, as chances de obter sucesso em nossas metas.

 

  1. Neurociência e produtividade

Como dito antes, para funcionar de modo apropriado, o CPF demanda uma grande quantidade de recursos, além de ter dificuldade em dedicar-se a mais de uma tarefa complexa simultaneamente. Por isso, na prática, o foco em múltiplas tarefas simultaneamente é uma ilusão, pois nosso cérebro não consegue processar da mesma forma tudo o que acontece a nosso redor. Por isso a necessidade de praticarmos o foco atencional em nossas atividades diárias.

Existe um outro fator relevante que é nosso ciclo circadiano, ou seja, o período de cerca de 24 horas do dia sobre o qual o ciclo biológico de quase todos os seres vivos se baseia. Isso determina o ritmo circadiano, que é influenciado pela luz do Sol, temperatura, movimento das marés, vento, dia e noite.

O funcionamento de nosso cérebro, via de regra, segue o ritmo circadiano. Por isso é tão importante estabelecermos rotinas de sono, horário para acordar, para dormir etc. E esse ritmo influencia os horários do dia em que estamos mais propensos a realizar tarefas que demandam muitos recursos do CPF, e tarefas mais automáticas, que demandam menos atenção.

Esses horários podem ter variações de pessoas para pessoas (alguns se sentem mais produtivos nas primeiras horas da manhã, outros um pouco mais tarde; alguns acordam muito dispostos logo cedo, outros se sentem melhor acordando mais tarde etc). Mas de forma geral, o ciclo circadiano tem uma grande influência no funcionamento do nosso cérebro. Ao entender esses conceitos, ficamos mais inclinados a identificar os períodos do dia mais propensos para atividades que exijam maior foco, além de respeitar a quantidade mínima de horas necessárias para nosso sono (que para um adulto são cerca de 7h diárias). Isso, por sua vez, nos ajuda a aumentar nossa produtividade.

three people sitting in front of table laughing together

  1. Neurociência e Inteligência Emocional

Qual é a relação entre Neurociência e Inteligência Emocional?

Segundo Daniel Goleman, a Inteligência Emocional é “a capacidade de identificar nossos próprios sentimentos e dos outros, de nos motivarmos e gerirmos os impulsos dentro de nós e em nossos relacionamentos”.

Para tanto, é preciso entender como conciliar as duas faces da mente humana, a racional e a emocional. Essas duas faces não podem ser separadas, estando sempre integradas.

Ainda de acordo com o autor, a mente racional é a parte responsável por processar as situações que nos acontecem, tendo a capacidade de refletir sobre os acontecimentos de modo consciente. A mente emocional, por sua vez, é muito mais rápida nas respostas às reações, produzindo reações inconscientes e imediatas. Esses conceitos são muito semelhantes aos conceitos de processamento consciente e inconsciente, que vimos acima.

Portanto, a Inteligência emocional surge quando conseguimos integrar de maneira adequada a mente racional e a emocional, de modo a identificar, entender e processar nossas emoções e as emoções das outras pessoas.

De acordo com a Neurociência, as emoções são reações químicas do corpo a uma determinada situação. Essas reações são automáticas e inconscientes, e não podem ser evitadas. Porém, através do CPF, é possível identificá-las e processá-las, regulando, portanto, nossos comportamentos.

Nesse ponto, acredito que ficou claro como esses conceitos estão relacionados. A compreensão desses conceitos da Neurociência possibilita maximizar os recursos de nosso CPF, o que por sua vez possibilita a regulação de nossas emoções, que é essencial para desenvolvermos a Inteligência Emocional.

 

  1. Neurociência e Alterismo

O termo “Alterismo” é abordado no livro “Dar e Receber”, de Adam Grant, professor da Escola de Negócios da Universidade de Wharton. Trata-se de uma prática de doação consciente, através da qual uma pessoa ajuda as outras, sem prejudicar seus próprios interesses. É a generosidade com limites, balanceando as necessidades dos outros com as nossas próprias necessidades.

“Ser uma pessoa alterista não significa você se dedicar 100% do tempo a outras pessoas ou fazer tudo pelos demais. Ser alterista é ter a certeza de que os benefícios da doação irão superar os custos de seus esforços, ou seja, a sua ajuda irá valer a pena não somente para o outro, mas também para você.”[2]

Mas como a neurociência pode nos ajudar a entender o alterismo?

Primeiramente, o autoconhecimento decorrente do estudo da Neurociência nos permite conhecer melhor nossos próprios limites. Além disso, essa compreensão do funcionamento do cérebro também possibilita uma maior compreensão das necessidades do outro, contribuindo assim para a prática do alterismo.

Por outro lado, a prática do alterismo pode ser benéfica para nosso cérebro.

A principal diferença entre os humanos e os demais seres é a nossa inteligência. E como somos seres sociais, essa inteligência só atinge seu pleno potencial através da colaboração. Isso é o que se denomina Inteligência Social ou Inteligência Colaborativa.

O que de fato move os seres humanos são as emoções, que estão sempre na base de nossas decisões. E os afetos que nos fazem colaborar são importantes para o sucesso de nossa espécie, em todos os níveis.

Um ambiente de trabalho alterista possibilita que o cérebro da equipe se mantenha no modo de recompensa, potencializando assim o desenvolvimento das funções executivas do CPF, facilitando, consequentemente, o engajamento e a resolução de problemas complexos. Além disso, contribui para o desenvolvimento da Inteligência Colaborativa.

woman sitting in front of the laptop

  1. Conclusões

Através da Neurociência comportamental e cognitiva, é possível entender a relação entre o funcionamento do cérebro e o comportamento, especialmente a dinâmica entre razão e emoção, processamento consciente e inconsciente, modos de ameaça e recompensa e a neuroplasticidade.

Esses conceitos permitem que tenhamos uma visão mais realista dos mecanismos que norteiam o funcionamento do cérebro dos seres humanos de uma forma geral, o que consequentemente proporciona uma maior autoaceitação, além da aceitação do outro. Além disso, permite ampliar nosso próprio autoconhecimento, pois passamos a observar e avaliar nosso comportamento, e buscar mecanismos para a regulação das emoções, além de potencializar o uso de nosso pensamento analítico. Finalmente, proporciona uma maior compreensão das pessoas de modo geral, o que pode contribuir para a redução de julgamentos e preconceitos. Isso tudo contribui para o desenvolvimento da Inteligência Emocional.

Todo esse aprendizado pode ser de grande valia para nossa vida profissional, à medida em que passamos a:

  • tomar consciência de situações que ativam o modo de ameaça, e buscar mecanismos para aproximar nosso cérebro do modo de recompensa;
  • tomar decisões mais conscientes e dirigidas para nossos próprios interesses e valores;
  • cultivar uma mentalidade de crescimento;
  • aumentar nossa produtividade, respeitando o ritmo e desempenho de nosso cérebro;
  • identificar e processar nossas emoções e as emoções das outras pessoas, melhorando nossos relacionamentos e desenvolvendo a Inteligência Emocional;
  • conhecer nossos próprios limites e estar aberto a conhecer as necessidades de outras pessoas, de modo a praticar o alterismo.

Em suma, seja através de estudos auto dirigidos ou através da ajuda de profissionais com conhecimento na área, a Neurociência pode ser uma grande aliada para nosso sucesso pessoal e profissional.

[1] Fontes: https://online.pucrs.br/blog/public/neurociencia-conceito-campos-mercado-de-trabalho#:~:text=Neuroci%C3%AAncia%20estuda%20o%20sistema%20nervoso,as%20atividades%20volunt%C3%A1rias%20ou%20involunt%C3%A1rias

https://posdigital.pucpr.br/blog/neurociencia-e-comportamento#:~:text=O%20que%20%C3%A9%20a%20neuroci%C3%AAncia,psicol%C3%B3gicos%20associados%20%C3%A0%20atividade%20biol%C3%B3gica

[2] Cris Zanata, fundadora do InsAB, no artigo “Conheça o que é o alterismo e descubra uma nova maneira de se conectar com as pessoas”: https://mulheresnoecommerce.com.br/conheca-o-que-e-o-alterismo-e-descubra-uma-nova-maneira-de-se-conectar-com-as-pessoas/

 

Tags: Sem tags

One Response

Deixe um comentário

Seu email não será publicado. Campos com * são obrigatórios.