Ludmyla Jungmann Godoy*
Em 11/03/20 foi declarado pela OMS a pandemia do coronavírus.
Qual o sentimento que mais ficou evidente em todo mundo?
Pesquisadores de um amplo estudo sobre os resultados da pandemia, publicado na revista The Lancet em fevereiro deste ano, descobriram que os fatores chave para prevenir as infecções por Covid foram a confiança interpessoal e a confiança no governo.
Confiança significa crença na probidade moral, na sinceridade, lealdade e competência. A palavra confiança vem do latim confidere e “fidere” significa fé. Portanto, confiar é ter fé.
No jornal El País do dia 23/02, também influenciado pelo estudo acima, a socióloga espanhola Célia Díaz, da Universidade Complutense, coloca que a confiança é um princípio de saúde pública, “quanto mais coesão social, mais confiança nos outros e isso nos faz ter uma saúde melhor”.
Nos dois anos de pandemia aprendi como a confiança melhora ou não os relacionamentos dos profissionais de saúde entre si. Como médica da linha de frente, liderando várias UTIs em São Paulo, senti “na pele” os pontos levantados pelo estudo.
Para mim, a sensação de insegurança foi o sentimento que ficou em evidência. A morte estava mais perto de todos e ninguém tinha conhecimento sobre o comportamento do vírus.
Como conseguir confiar e dar confiança para outra pessoa diante de um cenário de desinformação?
Em muitos momentos estive ao lado de pacientes que diziam não acreditar nos médicos e profissionais de saúde.
Como passar confiança para um paciente tendo a maior parte do nosso rosto coberto e sem poder tocar ou mesmo gesticular?
Não era fácil conversar por telefone com familiares e colocar em palavras o que estávamos presenciando. Como fazer os familiares confiar em você se logo em seguida um profissional, com uma visão mais pessimista, mostrava uma outra face do mesmo caso? Tudo passou a ser motivo de desconfiança.
Quando no artigo eu li que, “a identidade do mensageiro na comunicação de risco também pode melhorar ou prejudicar a confiança”, senti um desejo enorme de dividir meus questionamentos e mostrar um dos caminhos que encontrei para resgatar a confiança na minha vida pessoal e profissional.
Faço parte do InsAB (instituto de Alterismo do Brasil) desde outubro de 2020 e sou da segunda turma do curso ministrado por sua fundadora, Cris Zanata, sobre alterismo.
Em primeiro lugar vale ressaltar que nunca havia sequer escutado esta palavra, porém os conceitos ligados a ela como, empatia, inclusão, equidade e diversidade me conectaram imediatamente à ideia do que é ser uma pessoa alterista.
Foi com esse grupo de mulheres que desenvolvi enormes laços de confiança que me proporcionaram tomar decisões importantes no trabalho e na vida.
Ainda segundo o estudo científico da The Lancet, “a confiança é um recurso compartilhado que permite que redes de pessoas façam coletivamente o que atores individuais não podem.” Assim são as mulheres alteristas, uma rede de mulheres que compartilham confiança coletiva.
Nada melhor do que o dia 8 de março, dia internacional da mulher, para reforçar a importância da confiança e como precisamos umas das outras para termos um futuro mais saudável.
Uma feliz comemoração para todas nós!
*Ludmyla Jungmann Godoy
Cirurgiã cardiovascular especialista em terapia intensiva e medicina integrativa com foco em mulheres
Revisão de texto: Luciana Russi
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(22)00172-6 publicado online em 01 de fevereiro de 2022 www.thelancet.com.
Fantástico
Parabéns!!!
Realmente fazer parte do Insab e conhecer o alterismo nos trouxe muita confiança, com a união do grupo no compartilhamento de ideias e experiências conseguimos superar muitos desafios e hoje conseguimos, juntas, celebrar pequenas e grandes conquistas!!!
Parabéns pelo belo texto!